A fórmula do sucesso da NFL: como a liga fatura tanto e consegue mobilizar multidões de torcedores?
Qual o segredo por trás do sucesso financeiro e de público da NFL? A FEA Sports Business analisou os pontos cruciais para que a liga americana seja exemplo mundial em arrecadação e na construção de espetáculos esportivos como o Super Bowl.
Por Vitor Vieira dos Santos
A construção da NFL como liga de um esporte nacional
A liga de futebol americana se beneficia da paixão do americano por esportes e pelo sentimento intrínseco de nacionalismo. O americano tem por sua essência o amor pela pátria e por tudo que reforça esse amor pela nação, e o futebol americano é um esporte genuinamente americano (em outros lugares do mundo pratica-se o Rugby), onde muito da história dos EUA se envolve diretamente com a história do esporte. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup indicou que o futebol americano é, de longe, o esporte favorito dos cidadãos dos Estados Unidos, com 37% da preferência. Basquete (11%) e beisebol (9%) vêm a seguir. Desde 1971, a NFL é a liga mais adorada da nação. A liga serviu de palco para protestos políticos recentes contra a discriminação racial no país, onde jogadores se ajoelharam no momento do hino nacional. Esse momento inicial de cada partida é tratado como tradição, onde todos cantam o hino em pé com a mão no peito, portanto esse gesto dos jogadores em forma de protesto foi vista como um desrespeito à nação, ocasionando críticas da própria NFL, dos americanos e até mesmo do ex-presidente Donald Trump.
Muitos ex-presidentes já tiveram ligação com o esporte, chegando a jogarem em nível universitário, como Gerald Ford que atuou pela Universidade de Michigan e Dwight Eisenhower que jogou futebol americano pela Academia Militar dos EUA, devido à forte ligação do esporte com as forças armadas do país. Algumas franquias da liga chegam a receber milhões de dólares do Ministério da Defesa para realizarem cerimônias pré jogos e de canto do hino nacional, em troca disso, a NFL realiza um mês inteiro de homenagem aos militares, e alguns times possuem setores de seus estádios com cadeiras cativas para os militares e suas famílias. Um ponto curioso foi a intervenção do ex-presidente Theodore Roosevelt em 1906 nas regras do esporte a fim de torná-lo menos agressivo.
Buscando seus talentos nas universidades americanas
Muito do sucesso da NFL com os espectadores tem relação com a construção do esporte como elemento cultural americano, visto que o futebol americano está presente na vida da população desde a juventude. O futebol americano está para os americanos assim como o futebol está para o brasileiro. O esporte é praticado desde muito jovem nas escolas americanas, no High School, ensino médio americano, e os jogadores que se destacam ganham bolsa atleta nas universidades com foco nas competições universitárias. O cenário de esporte universitário é tão grande e tradicional nos EUA que há uma liga de futebol americano universitário, onde há um campeonato entre as universidades americanas com o objetivo de revelar talentos para serem draftados pelos times da NFL. O esporte universitário é levado tão a sério que recentemente a EA Sports, desenvolvedora do jogo eletrônico FIFA, lançou neste mês de julho o EA College Football 25, jogo eletrônico de futebol americano universitário.
O sistema de montagem dos elencos dos times da NFL segue o mesmo modelo das franquias da NBA. Os jogadores universitários são draftados (escolhidos) pelas 32 equipes em 7 rodadas de escolha. Essa escolha é baseada no desempenho esportivo da equipe no último campeonato, porém de forma inversa, por exemplo a melhor equipe do último campeonato é a última a escolher no draft, a 2ª melhor equipe é a penúltima a escolher e assim segue o modelo. Portanto com esse sistema de draft, teoricamente há um equilíbrio de forças dentro das franquias, com os piores times ficando com as melhores promessas e os melhores times ficando com promessas não tão badaladas. Ainda há um esquema de troca de escolhas entre equipes, como realizou Chicago Bears e Carolina Panthers, os Bears cederam a primeira escolha do Draft de 2023 para os Panthers em troca da escolha de primeira rodada de Carolina em 2024.
Como a liga consegue arrecadar tanto dinheiro?
A NFL é a liga esportiva mais valiosa do mundo, com um faturamento de US$ 13 bilhões no ano de 2023, superando NBA, MLB, Premier League, La Liga, Champions League, entre outras ligas esportivas. Segundo a Forbes, do top 50 equipes mais valiosas do mundo, a NFL possui 30 franquias nessa lista. Esse sucesso financeiro se deve à boa gestão que a liga faz na divisão de recursos entre as franquias. A NFL tem duas principais formas de arrecadação: arrecadação direta por meio da própria direção da liga e por meio dos times. O carro chefe da arrecadação é a venda de direitos de imagem, negociados com TV´s americanas e plataformas de streaming. Essa fonte de renda gerou mais de US$ 125 bilhões nos últimos 11 anos, sendo igualmente repartida entre todas as franquias da liga. Como comparação, a NBA tem engatilhado um acordo televisivo de duração de 10 anos no valor de US$ 75 bilhões.
Logo em seguida, com uma estimativa de 10% da renda da liga vêm produtos licenciados e merchandising. Com um acordo bilionário selado com a Nike em 2018, a NFL deu permissão exclusiva à fabricante da comercialização de seus produtos oficiais nos EUA através do site de varejo online Fanatics. A liga também é um sucesso com relação a patrocinadores, grandes marcas disputam espaço para divulgarem suas marcas em comerciais durante os jogos, em placas de anúncios nos estádios e na mídia oficial da NFL. Em 2023, a liga contou com 36 patrocinadores, entre eles: Gatorade, Visa, FedEx e etc. Com os recentes acordos publicitários realizados, há a estimativa que a renda proveniente dos patrocínios chegue a US$ 800 milhões.
Além da arrecadação da própria liga, os times arrecadam uma boa parte do faturamento anual através da comercialização dos ingressos dos jogos, artigos esportivos e de concessões de produtos comercializados dentro de seus estádios. Levando em consideração o bom engajamento do público e a alta ocupação dos estádios durante a temporada, essa fonte de renda se torna um importante ponto no sucesso financeiro da liga.
A força da marca NFL dentro dos EUA
A marca NFL dentro do cenário estadunidense é fortíssima, tanto em termos de engajamento dos torcedores, quanto em termos de mercado publicitário. Em 2023, a final foi vista por mais de 115 milhões de pessoas nas televisões americanas, rendendo assim, um grande meio de comunicação para empresas divulgarem seus produtos e serviços. A liga detém o recorde dentro da televisão americana, dos 50 programas mais assistidos, 41 são jogos do Super Bowl. A ocupação média dos estádios durante os jogos da temporada regular chegam a 92,2%, demonstrando o quão enraizada está o esporte na cultura americana.
Internacionalização da marca mundo afora
Já consolidada em território americano, a NFL agora busca expandir seu mercado para fora dos EUA. A liga vem realizando alguns jogos em outros países do mundo, recentemente levou partidas para a Europa, na Alemanha e Reino Unido.
No dia 06 de setembro deste ano, a NFL chegará pela primeira vez em solos brasileiros, realizando uma partida em São Paulo, na Neo Química Arena. O jogo será entre Green Bay Packers e Philadelphia Eagles. O Brasil é um importante mercado consumidor da liga esportiva americana, visto que há 35 milhões de fãs da NFL no país. Boa parte desse público são homens e jovens, atingidos pelas redes sociais na divulgação do esporte e do Super Bowl como produto internacional.
Segundo levantamento do Twitter, o Brasil foi o quarto país no mundo que mais postou sobre a NFL na rede na temporada de 2022, atrás apenas dos EUA, Canadá e México. O volume de tweets foi 16% a mais em relação à temporada de 2021, evidenciando o aumento da base de fãs no país.
A NFL firmou parcerias de patrocínio e televisão no Brasil nos últimos anos. A marca possui um acordo com a Vivo na comercialização do NFL Game Pass, um serviço de assinatura, no qual dá acesso a todos os jogos da liga na temporada entre outros conteúdos de bastidores.
Com a recente chegada de jogos da liga no Brasil, a NFL fechou acordos de direitos de televisão com a rede aberta Rede TV!, com a rede fechada ESPN e com a Cazé TV para transmissão pelo Youtube, selando de vez a força da marca em território nacional. Com esses movimentos de expansão no mercado brasileiro, fica cada vez mais claro o objetivo da liga de conquistar mais fãs e fidelizar os já existentes.
O sucesso publicitário e financeiro da NFL: Super Bowl
É uma tradição, quase tido como um ritual, para os americanos assistirem o Super Bowl, jogo final da temporada da NFL. Esse evento esportivo, ultrapassa muito além da esfera esportiva, chegando a atingir mercados publicitários, de entretenimento e de apostas esportivas. O jogo por si só carrega uma importância muito forte, é o embate final entre as duas melhores equipes da temporada, portanto todos os olhos estão voltados para esse evento. Além da importância esportiva, o Super Bowl traz à tona a força da NFL no cenário americano, e possivelmente mundial. Na última edição em 2024, as estimativas de apostas realizadas na final chegaram a US$ 23 bilhões, um aumento considerável em relação a 2023, onde as cifras chegaram a US$ 16 bilhões. Segundo dados da American Gaming Association, 26% da população americana deve ter apostado no jogo.
Indo na esfera publicitária, o Super Bowl é um ponto fora da curva nesse mercado. Segundo dados da Statista, o preço médio de um anúncio durante a atração custa em torno de US$ 7 milhões, se comparado com outras atrações dentro do próprio mercado publicitário americano é um número muito expressivo.
No Super Bowl de 2024 houve uma grande surpresa ao se deparar com as propagandas da final. O jogador argentino Messi era a estrela publicitária da vez, estrelando pela primeira vez um anúncio em sua carreira. Houve uma estimativa que a Michelob Ultra, empresa de cervejas anunciante, gastou cerca de US$ 14 milhões para realizar esse comercial de 60 segundos no intervalo da final.
Como já citado anteriormente, o evento é muito mais que um marco esportivo, é também um importante evento musical. No intervalo do jogo há o tradicional Halftime Show, onde grandes artistas se apresentam e esse espetáculo é televisionado mundo afora. Importantes artistas já se apresentaram, como: Usher, Michael Jackson e Shakira. Esse momento também é importantíssimo para anúncio de marcas e para a própria consolidação do Super Bowl como evento de entretenimento.
Estima-se que em 2023 os consumidores americanos tenham gastado cerca de US$ 16,5 bilhões em relação ao Super Bowl, seja com ingressos, artigos esportivos e etc.
Referências
https://trickplay.com.br/sobrenfl/negocios-da-nfl/
https://maquinadoesporte.com.br/midia/caze-tv-espn-e-redetv-exibirao-partida-da-nfl-no-brasil/