Ciclos de copa e performances: correlação?

FEA Sports Business
8 min readJul 26, 2022

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Por André Ramicelli, Daniel Motta, Gaetano Grinberg, Walter Queiroz, Luiz Schalka, Maicon de Oliveira, Matias Prata, Felipe Cirumbolo, Willian Sousa

A copa do mundo está chegando, e nesse espírito esportivo a FEA Sports Business desenvolveu um texto relembrando os ciclos de copa e as performances das seleções que tiveram maior relevância nos últimos anos. Foi uma escolha arbitrária, em que por exemplo a tetracampeã Itália foi deixada de fora por ter tido participações esquecíveis nos últimos 12 anos.

Apesar de não ser um texto de gestão esportiva em si, o principal foco de nossa entidade, existem sim ensinamentos que podem ser retirados. Existe um estudo de “correlação qualitativa”, onde coletamos alguns dados dos anos que precedem a Copa , e comparamos com a campanha no maior torneio de seleções do planeta. Os dados são: performance nos torneios continentais (Eurocopa / Copa América); performance nas classificatórias para a Copa do Mundo; chance atribuída pelo mercado de apostas esportivas (as probabilidades dependem da casa que foi procurada); classificação na copa.

Ciclo da Copa de 2010

O ciclo de Copa da Alemanha teve um quase, quando perdeu a Final da Eurocopa de 2008 para a Espanha. Fora isso, classificou-se sem susto para a copa de 2010. Entretanto, no mercado de apostas não inspirava confiança, com chance de 8,3% de ser campeã. A trajetória refletiu na performance, pois na Copa de 2010 a seleção alemã teve uma respeitável 3a colocação.

A França teve uma performance vexatória na Euro de 2008, terminando em último em seu grupo. Nas eliminatórias, conseguiu se classificar apenas na repescagem. O clima no vestiário era péssimo. Mesmo assim, tinha chances iguais aos 8,3% da Alemanha, talvez por ter sido finalista na então última copa. Mas, assim como o ciclo, a performance na copa deixou muito a desejar, sendo eliminada na fase de grupos

A Holanda foi uma decepção na Eurocopa, saindo para a Rússia no mata-mata. Contudo, classificou-se sem sustos para a copa e, mesmo sendo uma azarona, com chance de 7,7% alguns meses antes, chegou até a final eliminando o Brasil, e só perdeu na prorrogação para uma imparável Espanha.

A Inglaterra começou o ciclo nem se classificando para a Eurocopa de 2008. Porém, a sua boa performance nas eliminatórias rendeu uma chance surpreendente de 14% para ser campeã. Essa expectativa britânica não foi realizada, sendo o país eliminado nas oitavas de final.

Para a Argentina o ciclo teve a participação de talvez o maior ídolo do País, Diego Maradona, quando assumiu o comando da seleção. A performance nas eliminatórias foi de passar sufoco, mas a copa américa de 2007 teve um resultado mediano para o país, sendo vice. Possuía até uma chance interessante de 9,1% de ser campeã, mas os 4 conturbados anos terminaram com uma goleada dos alemães em cima dos argentinos nas quartas de final.

A campeã Espanha teve um ciclo impecável: perfeita nas eliminatórias, campeã da eurocopa e com chance de 20% de levantar a taça. As expectativas foram realizadas.

A Bélgica está nessa discussão com grandes seleções pela suas performances a partir da metade da década de 2010, mas para essa copa não se classificou, nem para a Euro de 2008.

O Brasil chegou na Copa de 2010 campeão da Copa América anterior e 1o colocado das eliminatórias. Com chances robustas de 20% de ser campeão, no mesmo patamar da Espanha, o país do futebol não conseguiu superar alguns erros e foi eliminado nas quartas-de-final pela Holanda.

Ciclo da copa de 2014

A campeã da Copa começou o ciclo de novo com uma performance satisfatória na Euro, terminando com a medalha de bronze. A seleção alemã se classificou em 1o em seu grupo nas eliminatórias. Era também bem cotada pelo mercado, com chance de 15,4%. Acabou fechando com chave de ouro a trajetória.

A França teve uma performance melhor na Euro de 2012 do que em 2008, chegando até o mata-mata dessa vez. Essa eliminação na Euro gerou a 2a mudança de técnico em 2 anos. Porém, tendo garantido a passagem para o Brasil na repescagem apenas, não inspirou confiança do mercado, tendo menos de 5% de probabilidade de levar o caneco. Na copa não passou vexame, mas foi eliminada nas quartas pela Alemanha.

A Laranja Mecânica começou o ciclo com uma performance estranha na Eurocopa, perdendo todos os jogos da fase de grupos. Entretanto, o desempenho de 2010 e uma eliminatória sólida deram chance de 14% de serem campeões pela primeira vez. O tão sonhado título não veio, mas ainda sim conseguiram a 3a colocação.

Os Ingleses desta vez foram à Euro, mas também não chamaram a atenção caindo nas quartas. Em um grupo tranquilo, foram bem nas eliminatórias. Mas nada inspirava confiança nos apostadores, e a chance atribuída ao país era de 3,6%. Como previsto, o país não foi bem, sendo eliminada ainda na fase de grupos juntamente com a Itália

A Argentina teve um fracasso marcado na sua história na Copa América de 2011, pois foi eliminada precocemente jogando dentro de casa. Após isso, o técnico que comandou o time da saída de Maradona até 2011 saiu e entrou Alejandro Sabella, o qual comandou o time para o primeiro lugar nas eliminatórias. Chegando em 2014, o time era o segundo nas casas de aposta (18%), e foi justamente essa sua colocação, vice-campeão.

A Espanha havia sido campeã dos 3 últimos maiores torneios de seleções, incluindo 2 Euros (2008 e 2012) e a Copa de 2010. Até por isso, possuía 14% de chance de ser campeã. Entretanto, não conseguiu manter sua sequência. Após uma performance mediana nas eliminatórias, teve um vexame ao ser eliminada na fase de grupos.

A Bélgica começou o primeiro ciclo da chamada “Geração de ouro belga” não se classificando para a Euro 2012. Porém, uma boa performance nas eliminatórias inspiraram uma chance razoável para o país com pouca tradição no futebol (6,7%). A expectativa foi justificada, pois o país conseguiu chegar até as quartas de final.

A Copa de 2014 foi sediada no Brasil. Portanto, o país não precisou ir às eliminatórias. A Copa América de 2011 não foi exatamente motivo de orgulho para a Seleção, tendo caído nas quartas de final para o Paraguai. Mas toda a expectativa para ser hexa em casa proveu uma probabilidade de 23%. O país, no mais vexaminoso momento de sua história, foi eliminado nas semifinais, num dia que dispensa lembrar.

Ciclo da Copa de 2018

Defendendo seu título, a seleção alemã teve uma campanha razoável na Euro de 2016, terminando em quarto lugar, e vindo invicta das eliminatórias, a chance do país ser campeão era alta, 16,7%. Nem tudo eram rosas, pois chegando na data da copa, começaram a ter problemas no vestiário, inclusive de natureza étnica. Os alemães fizeram na copa da Rússia uma campanha muito abaixo do esperado, sendo lanterna do grupo.

A campeã França, após dois ciclos ruins de copa do mundo, foi vice-campeã da Eurocopa e classificou sem sustos para a copa de 2018. Com 18,2% de probabilidade de ser campeã, o país fez bonito e comemorou seu bicampeonato.

Após duas performances de pódio nas copas anteriores, a Holanda começou o ciclo de 2018 sem nem se qualificar para a Euro 2016. E também não conseguiu ir para a copa de 2018.

A Inglaterra teve a melhor campanha das eliminatórias de 2018, mas isso não impediu que fosse eliminada precocemente na Euro de 2016 pela Islândia, ainda nas oitavas de final. O país não inspirava tanta confiança nos mercados, tendo chances de 5,9%. Mas, ao contrário dos anos anteriores, que surpreendeu negativamente, dessa vez seleção agradou seus torcedores chegando até as semifinais.

A Argentina continuou com sua instabilidade de treinadores neste último ciclo. Entre as Copas de 2014 e 2018, foram 3 técnicos diferentes. Foi vice-campeã das Copas américas de 2015 e 16. Possuía chance de 11%, apesar do período conturbado. Porém, os conflitos com o técnico atrapalharam a campanha, que terminou nas oitavas de final.

Após a esquecível participação na Copa de 2014, a Espanha o país nem se classificou para a Euro de 2016. Não teve sustos na classificação e tinha uma chance boa (12,5%) de serem campeãs de acordo com as casas de apostas. Porém, dois dias antes da bola rolar na Rússia, houve a demissão do técnico Julen Lopetegui. E foi nesse clima ruim que os espanhóis foram eliminados nas oitavas pelos donos da casa.

A Bélgica, apesar de ter sido eliminada nas quartas da Euro de 2016 pela seleção de Gales, fez uma ótima eliminatória e teve uma certa confiança do mercado (7,7%). E conseguiu a melhor campanha de sua história, chegando a desafiar seriamente o título e alcançando a 3a colocação.

O Brasil chegou em 2018 mais uma vez com muita expectativa. Apesar do ciclo ter tido duas participações ruins nos torneios continentais de 2015 e 16, que gerou a queda de Dunga e a contratação de Tite, a tradição inerente da seleção canarinho aliada com uma boa eliminatória deram probabilidade de 16,7% para seu hexacampeonato. Todavia, o time ficou no meio do caminho perdendo para os belgas.

Ciclo da Copa de 2022

O atual ciclo de copa da Alemanha não começou com uma boa colocação na Euro, sendo eliminada nas oitavas pela Inglaterra. Garantiu o primeiro lugar no grupo da eliminatória, mas o mercado não acredita muito na vitória na primeira Copa do mundo de Hansi Flick como treinador, dando 9,1% de chance.

A França chega com as responsabilidades de ser a atual campeã. Mesmo com uma saída precoce na Euro de 2020 (que foi em 2021) e uma participação apenas satisfatória nas classificatórias para a Copa, o mercado dá a mesma chance da sua última participação, 18,2%. Desde 2010 o campeão atual não chega nos mata-matas. A França mudará isso?

A Holanda no seu ciclo teve altos e baixos, mas ficou marcada por uma eliminação nas oitavas para a República Tcheca. Classificou-se em primeiro em seu grupo nas eliminatórias, mas isso não fez despertar confiança no mercado, com apenas 7,7% de chance.

A Inglaterra vem buscar o bicampeonato, depois de 56 anos da sua última conquista. Foram vice-campeões da Eurocopa, com algumas performances animadoras, e somado isso à campanha nas eliminatórias europeias, criou um otimismo de 15% de chance de conseguir o bicampeonato.

A Argentina conseguiu manter apenas uma pessoa no comando durante o ciclo inteiro, diferente das últimas vezes. Aliando isso com uma vitória na Copa América de 2021 e uma boa performance nas eliminatórias, os argentinos estão presentes na discussão de possíveis campeões, com 12,5% de chance.

A Espanha, num ciclo de reconstrução, conseguiu chegar nas semifinais da Euro e tiveram uma campanha classificatória consistente. Não são favoritos, mas tem uma chance razoável de levar o caneco (11,1%) para Madri.

A Bélgica caminha para o fim de sua geração de ouro. Não teve complicações nas eliminatórias, mas a Euro de 2021, onde saiu nas quartas de final, não transmitiu a mesma confiança que o time que fez aquela excelente campanha em 2018. O mercado valoriza a probabilidade de 10% de título para os belgas.

O Brasil vem de ótimas eliminatórias, e apesar de ter sido derrotado na Copa América de 2021, foi vencedor da edição de 2019. Hoje é o primeiro colocado no ranking da FIFA e é o favorito para vencer, com 18,2% de chance. Será que vem o hexa?

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A FEA Sports Business é uma entidade universitária da FEA USP, que tem como objetivo fazer parte da mudança e da profissionalização da gestão esportiva no país.

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