CLUBES NA TELA

FEA Sports Business
6 min readNov 8, 2020

--

Os porquês de muito times estarem gravando séries e documentários sobre seu ambiente interno

Por: Eduardo Silveira, Gabriel Landim, Lucas Tury e Thomas Moriya

O IMPACTO PARA OS CLUBES

Inegavelmente, o esporte se tornou um dos negócios mais lucrativos nos dias de hoje e, sendo assim, é de extrema importância que os clubes saibam como trabalhar com isso. Uma das melhores maneiras de agregar valor à marca é fazendo diversas campanhas de marketing que refletem tanto dentro quanto fora do campo. Ricardo Hinrichsen, ex-diretor executivo de marketing do Clube de Regatas do Flamengo, diz que os resultados, tanto dentro de campo quanto de ações de marketing, aumentam a visibilidade da marca e isso se reflete em maior comercialização de propriedades.

Com o avanço tecnológico, surgiu o marketing digital, um novo segmento do marketing e um dos mais importantes da atualidade. Dados de uma pesquisa realizada pela revista Business Week com as 100 empresas mais valiosas do mundo mostraram que os empreendimentos que investiram em mídias sociais cresceram em média 18% ao ano, enquanto as empresas que não investiram cresceram apenas 6%. Quanto a isso, Alan dos Santos, vice-presidente digital da Associação Brasileira de Marketing e Negócios, declarou que é necessário entender que as mídias sociais vieram para trazer benefícios aos negócios, e não malefícios. Um consenso entre os especialistas da área é que, principalmente para clubes de futebol, as ações de marketing tendem a dar mais resultado, pois envolvem a paixão dos torcedores. Soares afirma que a função do marketing no esporte é “conciliar as demandas do mercado com a paixão do esporte, proporcionando prazer em troca de resultados”.

Para buscar a visibilidade dos torcedores e gerar mais recursos ao clube, diversas ações são preparadas para aproximar o público, e para isso vale até investir em outros segmentos. Ações de marketing diferenciadas fora do campo são fundamentais para trazer o torcedor aos estádios ou até mesmo para conquistar novos torcedores. Rodrigo Moreira, superintendente de inovação e digital do Cruzeiro, crava que clubes que não produzirem conteúdos digitais alternativos, que geram interesse do torcedor e o aproximam do clube, vão morrer. Para isso, é fundamental a produção constante de conteúdo, mesmo que no momento em que foi produzido esse conteúdo não tenha um propósito imediato, assim como a bem sucedida série “The Last Dance”, que narra a trajetória vitoriosa do Bulls durante os anos 90 e teve a maior parte de seu conteúdo gravado em 1998, sendo apenas produzida em 2020. A série foi um sucesso estrondoso e chegou a ser a mais assistida da Netflix durante duas semanas no mês de seu lançamento e atingiu 6,1 milhões de telespectadores na ESPN Norte-Americana.

EXEMPLOS DE SUCESSO

Recentemente ocorreu uma enorme crescente no mercado de documentários que mostram os bastidores de grandes equipes, mostrando o ambiente interno, a vivência do dia a dia, a dinâmica durante a temporada, nas janelas de transferência e a relação com o torcedor e sócios, fazendo com que os fãs se sintam imersos no cotidiano das equipes.

Além da já citada The Last Dance”, há diversas outras séries bem sucedidas sobre ambiente interno de clubes. Na Amazon Prime, a saga “All or Nothing” documenta o ambiente interno de diversas instituições esportivas, que vão desde a Seleção Brasileira até o Philadelphia Eagles, equipe de futebol americano. Um dos maiores sucessos da saga foi a edição que cobriu e documentou detalhadamente o Tottenham da temporada 19/20, desde problemas nas negociações de jogadores até como lidar com a pandemia do Covid-19. Câmeras escondidas serviram muito bem para captar as reações sinceras dos jogadores, do presidente e, principalmente, do astro José Mourinho. O técnico foi um fenômeno de popularidade e gerou afinidade até em torcedores rivais, que o viram por um lado mais humanizado. Fernando Fleury, especialista em marketing esportivo, afirma que o Tottenham teve muito mérito por ter a esperteza de focar a série em José Mourinho, sempre muito polêmico e midiático. Apesar de gostar da fama de ‘superstar’, o treinador português ressaltou em entrevista ao ‘Tribuna Expresso’ que a parte mais importante dessas séries é o torcedor entender que os jogadores são humanos também e que quando têm problemas pessoais, isso afeta o rendimento do clube como um todo.

Na plataforma de streaming rival, a Netflix, a série “Matchday: FC Barcelona” foi além de mostrar os bastidores e o ambiente interno do clube catalão, mas também mostrou as intimidades dos jogadores. Para convencer os atletas de abrirem suas vidas pessoais para documentação, o Barcelona teve a inteligente ideia de convidá-los para se tornarem sócios do projeto, assim deixando a série mais rica em informações e mais atrativa para quem assistisse. Apesar de ter feito relativo sucesso entre a audiência, houve críticas em relação a “não veracidade” do que foi relatado, devido aos diálogos não orgânicos e a uma encenação de um cenário totalmente diferente do que o clube viveu durante a temporada. Isso prejudicou o sucesso da série pois os telespectadores estão interessados em algo verdadeiro, que mostre a verdadeira “montanha-russa” que é o futebol.

Na contramão da série do clube catalão, o Sunderland protagonizou a famosa série “Sunderland até morrer”, também da Netflix, na qual expõe a verdade nua e crua do que são os bastidores de um clube com pouco investimento. O sucesso por mostrar a realidade foi tão grande que a série recebeu até uma segunda temporada, muito mais dramática. A série começou a ser gravada como uma forma de mostrar o renascimento do clube, mas acabou tomando o caminho contrário, para a sorte dos produtores e telespectadores. Durante as duas temporadas, há uma demonstração explícita de má gestão e desorganização do clube, uma aula do que uma diretoria esportiva não deve fazer.

Ademais, há outros diversos casos de sucesso demonstrando que o universo esportivo pode sim conversar com o universo cinematográfico e gerar benefícios para ambos os lados. Vale ressaltar que a documentação do ambiente interno não precisa necessariamente virar uma série, mas esse conteúdo pode também ir para outras mídias, como as redes sociais, para que sempre atraia a atenção da torcida. Nesse sentido, esse conteúdo produzido, principalmente nas redes sociais, deve ser algo inovador, não algo que a própria imprensa já faz, como relatórios de treino. É necessária e urgente a adaptação dos clubes ao mundo digital, pois os que não se atualizarem serão deixados para trás e estarão perdendo a chance de lucrar muito.

Ao olhar para o lado das produtoras/provedoras de serviços de streaming, como a Netflix e o Prime Video da Amazon, buscando entender os benefícios para estes, podemos identificar o interesse de entrar no bilionário mercado do futebol.

Com essas séries e documentários, as plataformas imediatamente obtêm resultados, não apenas em conteúdo a mais em seus catálogos, mas também como uma associação da marca com o esporte.

Essa segunda situação é especialmente verdade para a Amazon: na temporada 2019–20, a gigante americana já havia adquirido direitos de transmissão para alguns jogos da Premier League no Reino Unido, e na temporada 2020–21 vai ter exclusividade na transmissão de duas rodadas (13 e 16) para os britânicos.

--

--

FEA Sports Business
FEA Sports Business

Written by FEA Sports Business

A FEA Sports Business é uma entidade universitária da FEA USP, que tem como objetivo fazer parte da mudança e da profissionalização da gestão esportiva no país.

No responses yet