Saltos: Rumo à Glória Olímpica
A FEA Sports Business trouxe a linha do tempo da Ginástica Artística, desde sua criação até as Olimpíadas de Paris de 2024, mostrando como o esporte é um fator que reflete as situações sociais.
Por Maria Luiza Almeida Monteiro
“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”. A frase dita por Aristóteles nos remete a um passado grego que deu origem a muitas das atividades que conhecemos atualmente. Um exemplo delas é a ginástica artística. Seu surgimento se deu na Grécia Antiga, onde a prática frequente de exercícios intensos era extremamente valorizada a fim de garantir um elevado rendimento durante os conflitos. Ainda, a ginástica era muito recomendada pelos filósofos na Antiguidade, pois, para eles, era a junção ideal de treinamento físico e mental. Porém, durante a Idade Média, o culto ao corpo foi encoberto e o esporte perdeu suas forças.
Entretanto, em 1896, na primeira edição das Olimpíadas da Era Moderna, a ginástica voltou a ser uma potência e é uma das poucas competições que assiduamente faz parte do calendário olímpico desde sua inauguração. Inicialmente, existia apenas a categoria masculina, com cinco aparelhos, sendo um deles a subida na corda, que não é mais disputada. E apenas em 1928, nas Olimpíadas de Amsterdã, a participação feminina foi permitida, sendo inaugurada com três dos quatro aparelhos disputados hoje em dia.
Em meados do século XX, com a intensificação da Guerra Fria, a União Soviética enxergou a possibilidade de mostrar sua força a partir de um esporte que, na época, estava sendo pouco explorado. Por conta disso, a URSS passou a investir fortemente na ginástica artística e se tornou referência nessa modalidade. A exemplo da atleta romena Nadia Comaneci, que, aos 14 anos, durante os Jogos Olímpicos de Montreal em 1976, tornou-se a primeira ginasta a receber nota máxima nas barras assimétricas: feito tão inesperado que, em um primeiro momento, o placar registrou sua pontuação como sendo 1 ao invés de 10. Ainda durante as Olimpíadas de 1976, Nadia recebeu outras sete notas 10, três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.
O mundo, então, passou a reparar no poder desportivo da URSS quando, em seu auge, ela conquistou quase todas as medalhas da ginástica artística feminina, despertando um sentimento de rivalidade com as nações ocidentais não apenas a partir de questões armamentistas, mas também no esporte. A partir disso, eventos esportivos passaram a sofrer boicotes esporádicos pelas potências e suas zonas de influência. Em 1980, os Estados Unidos e outros 65 países não participaram dos Jogos Olímpicos de verão para protestar contra a invasão soviética no Afeganistão. Em resposta, a União Soviética e seus aliados não participaram das Olimpíadas de 1984, ano em que os Estados Unidos conquistaram diversas medalhas de ouro, incluindo sua primeira vitória na categoria individual geral.
Apesar disso, o triunfo americano mais marcante se deu apenas nas Olimpíadas de Atlanta de 1996, com a ginasta Kerri Strug. Ela realizou com maestria seu salto sobre o cavalo, mas, durante a aterrissagem, a atleta se desequilibrou e rompeu dois ligamentos do tornozelo. Não obstante a Guerra Fria já ter chegado ao fim, o nacionalismo e a rivalidade entre os países ainda se faziam muito presentes. Por isso, Strug, sabendo que a tão sonhada medalha de ouro dependia apenas de seu segundo salto, levantou-se e realizou sua segunda tentativa, que, apesar das dificuldades, foi feita com precisão e garantiu a vitória ao time americano. Kerri saiu da área de competição carregada por seu técnico e recebeu aplausos calorosos da plateia.
Atualmente a tecnologia é um fator muito importante nas competições. Além do já conhecido Sistema de Controle e Replay Instantâneo, outra inovação encontra-se em fase de teste para possivelmente ser usada durante os futuros Jogos Olímpicos. Em 2017, a empresa de tecnologia japonesa Fujitsu, em parceria com Morinari Watanabe, presidente da Federação Internacional de Ginástica Artística, desenvolveu o Sistema de Julgamento Esportivo. Essa tecnologia avalia, a partir de uma inteligência artificial analítica, dados coletados durante a execução dos movimentos dos atletas e fornece um mapeamento tridimensional do ambiente de performance. O uso desse sistema permite que as decisões dos juízes sejam mais imparciais e fundamentadas.
As Olimpíadas de 2024 foram muito aguardadas pelos amantes de esporte, os quais estão com expectativas altíssimas para a competição, principalmente porque a edição de 2021 não pôde ter espectadores presencialmente devido à pandemia de Covid-19. No campo da ginástica artística, as atuais apostas são focadas em:
- Rebeca Andrade: primeira brasileira a ganhar mais de uma medalha em uma edição olímpica;
- Sunisa Lee: em 2021, sua primeira participação nas Olimpíadas, venceu a categoria individual geral feminino;
- Simone Biles: nas Olimpíadas de Tóquio de 2020, a multicampeã anunciou sua desistência da competição para cuidar de sua saúde mental;
- Hashimoto Daiki: em 2021, sua primeira participação nas Olimpíadas, venceu a categoria individual geral masculino;
- Max Whitlock: o ginasta britânico tem chances de ganhar sua quarta medalha consecutiva na etapa cavalo com alças;
- Arthur Zanetti: as Olimpíadas de Paris de 2024 podem marcar a despedida do medalhista brasileiro;
A edição de 2024 dos Jogos Olímpicos está acontecendo com sucesso em Paris, sua cidade-sede. Os eventos esportivos estão sendo transmitidos para o mundo todo e acompanhados por milhões de pessoas. A ginástica artística conta com atletas talentosos e consagrados, bem como novas figuras de elevado potencial, permitindo que o público acompanhe com euforia e curiosidade o esporte, que já refletiu (e o faz até hoje) mudanças sociais significativas, como a pauta trazida por Simone Biles acerca da importância de cuidar da saúde mental.
Referências
BLAKEMORE, Erin. Como a ginástica se tornou um dos mais populares esportes olímpicos. National Geographic, 2021. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2021/07/olimpiadas-ginastica-esportes-olimpicos-jogos-modernos-atleta-ginasta>. Acesso em: 22 de jul. de 2024.
GOULART, Karine Naves de Oliveira. Gasto energético e intensidade do esforço de atletas do sexo feminino durante sessões de treinamento de ginástica artística. 2013. 41 f. Monografia (Graduação em Educação Física) — Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.
CATALDO, Diego. Nadia Comaneci: idade, medalhas, biografia e altura da atleta. GE, 2024. Disponível em: <https://ge.globo.com/olimpiadas/guia/2024/07/16/c-nadia-comaneci-idade-medalhas-biografia-e-altura-da-atleta.ghtml>. Acesso em: 22 de jul. de 2024.
DOR e glória: relembre salto de ginasta com ligamentos rompidos que deu ouro inédito aos EUA. GE, 2019. Disponível em: <https://ge.globo.com/olympicchannel/noticia/dor-e-gloria-relembre-salto-de-ginasta-com-ligamentos-rompidos-que-deu-ouro-inedito-aos-eua.ghtml>. Acesso em: 22 de jul. de 2024.
ARBULU, Rafael. Fujitsu cria IA para ajudar juízes em Mundial de Ginástica Artística. Canaltech, 2019. Disponível em: <https://canaltech.com.br/inteligencia-artificial/fujitsu-cria-ia-para-ajudar-juizes-em-mundial-de-ginastica-artistica-151465/>. Acesso em: 22 de jul. de 2024.
VIEIRA, Sheila. Ginástica artística em Paris 2024: programação completa e ingressos. Olympics, 2022. Disponível em: <https://olympics.com/pt/noticias/calendario-ginastica-artistica-jogos-olimpicos-paris-2024>. Acesso em: 22 de jul. de 2024.