Vôlei de quadra brasileiro nas Olimpíadas: história, participações e conquistas.
As Olimpíadas da Era Moderna são o maior evento esportivo do mundo que reúne mais de 200 países e diversas modalidades, entre elas o vôlei de quadra. Conquistando o coração dos brasileiros desde o século XX, o voleibol é motivo de muita emoção para o país. Por isso, a FEA Sports Business trouxe a trajetória das equipes brasileiras nesta modalidade desde a sua primeira participação nas Olimpíadas.
Por Júlia Seith
O voleibol de quadra tem suas origens no fim do século XIX em Massachusetts, nos Estados Unidos. William G. Morgan, diretor de educação física de uma associação cristã, tinha como objetivo criar uma atividade que pudesse ser praticada internamente, mas que não fosse tão desgastante quanto o basquete, outro esporte que estava em ascensão na época. Dessa forma, em 1895, começou a ser praticado um esporte parecido com o badminton cujo objetivo, no entanto, era utilizar as mãos para passar uma bola de couro sobre a rede. A princípio, foi batizado por Morgan de mintonette, uma junção de basquetebol e badminton, porém logo foi substituído pelo nome atual.
O vôlei rapidamente se disseminou nos EUA, ultrapassando as fronteiras para Canadá e México nos anos seguintes e chegando até o Japão em um curto intervalo de tempo. Já na América do Sul, o primeiro campeonato aconteceu no Rio de Janeiro em 1951, com a seleção brasileira sendo campeã tanto no feminino quanto no masculino. Apesar da grande popularidade, o vôlei só teve sua estreia nas olimpíadas em Tóquio 1964 como parte de um evento especial para apresentar novos esportes e fez tanto sucesso que até hoje nunca saiu do programa olímpico.
Durante os primeiros ciclos olímpicos com a participação do voleibol, que compreende de 1964 até 1980, o Brasil não teve uma participação expressiva, conquistando o quinto lugar como sua melhor colocação. Vale citar também que o time feminino se classificou pela primeira vez para os Jogos apenas em 1980. Nesse período, os destaques são para Japão, com dois ouros e duas pratas no feminino e um ouro, uma prata e um bronze no masculino, e para a União Soviética, com três ouros e duas pratas no feminino e três ouros, uma prata e um bronze no masculino, conquistando medalhas nas duas categorias em todas as cinco olimpíadas.
Os Jogos de Los Angeles foram um marco para o voleibol brasileiro. Em 1984, pela primeira vez, o Brasil conquista o pódio com a equipe masculina. Após ganharem dos donos da casa por 3x0 na fase de grupos, Brasil e Estados Unidos se reencontraram na grande final. Infelizmente, a seleção brasileira teve uma atuação discreta e levou o troco no placar: três sets a zero para os EUA e prata para o Brasil. Já a seleção feminina novamente não fez uma boa campanha, repetindo a 7ª colocação dos Jogos anteriores.
Apesar da derrota na final, a medalha do masculino deu uma nova visão para a modalidade no Brasil. Até a década de 1980, o país não tinha tradição no voleibol, mas foi a partir de Los Angeles 1984 que o Brasil passou a ter uma relevância internacional no esporte. Desde então, com exceção de Seul 1988, a seleção brasileira subiu ao pódio em todas as edições de Olimpíadas, seja no masculino ou no feminino.
Após as Olimpíadas de 1984, o vôlei virou uma febre entre os adolescentes, sendo considerado o segundo esporte mais praticado nessa faixa etária, ficando atrás somente do futebol de salão. Mais tarde, entre 1990 e 2000, a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) percebeu que a modalidade se tornou a segunda em preferência dos brasileiros, independentemente da idade, e até hoje segue sendo uma das mais amadas e praticadas no país.
Esse repentino incentivo em um esporte que ainda estava criando raízes na população fez com que a seleção brasileira construísse a base do que seriam os times multicampeões nos anos seguintes. A primeira equipe a saborear os frutos de tanto trabalho foi a comandada por Zé Roberto Guimarães e que contava com estrelas como Tande e Marcelo Negrão. Após perder o bronze para a Argentina em Seul 1988, a seleção masculina não chegava em Barcelona como favorita ao ouro. Entretanto, surpreendendo até mesmo os jogadores, a seleção ganhou todas as partidas, batendo os Países Baixos na final e conquistando para o Brasil o primeiro ouro olímpico em um esporte coletivo.
Os anos de glória chegaram, enfim, para a seleção feminina depois de quase três décadas de participação nas Olimpíadas e duas campanhas recentes batendo na trave: o Brasil foi bicampeão olímpico em duas edições seguidas. A equipe feminina, que coincidentemente também era treinada pelo técnico Zé Roberto Guimarães, chegou em Pequim 2008 com sede de medalha. Em retrospecto, foi eliminada nas semifinais nas últimas quatro Olimpíadas e, mesmo que tenha conquistado o bronze em duas delas, queria quebrar essa maldição e chegar pela primeira vez em uma final olímpica. Fechou a fase de grupos com cinco vitórias em cinco jogos e manteve os 100% de aproveitamento sem perder nenhum set até a final. A seleção brasileira de voleibol feminino se sagrou campeã de forma incontestável na partida contra os Estados Unidos com um placar de três sets a um, coroando a campanha perfeita do Brasil.
Avançando quatro anos no tempo, o Brasil não fez um bom pré-olímpico e definitivamente não era favorito para medalha em Londres. Terminou a fase classificatória na quarta colocação e tinha pela frente o forte time da Rússia que havia ganhado todos os jogos de seu próprio grupo. Apesar de ter feito a final novamente contra os EUA e repetido o placar de três a um, foi justamente o confronto com a Rússia nas quartas que deu o gás que o time precisava para reagir na competição. Num jogo disputado e decidido no tie-break, a seleção brasileira salvou seis match points no quinto set e virou o jogo de forma heroica. Nas semis, bateu o Japão e sacramentou sua participação conquistando o ouro sobre os Estados Unidos.
Para um país com essa história crescente no voleibol, a cereja do bolo que faltava era ocupar um lugar no pódio diante da sua própria torcida e a seleção brasileira teve essa chance na 31ª edição dos Jogos Olímpicos. Sediadas no Rio de Janeiro, as Olimpíadas de 2016 foram marcadas por momentos de muita emoção para os fãs brasileiros. O país investiu bilhões em sua infraestrutura para receber o evento e toda a expectativa já existente em outras edições foi multiplicada com a possibilidade de ser campeão em casa.
Porém, a seleção feminina caiu cedo na competição. Vindo do bicampeonato, era uma das favoritas para levar o ouro e confirmou seu favoritismo na fase de grupos: sem perder nenhum set, se classificou para a fase eliminatória na primeira colocação. Infelizmente para o Brasil, a China, que havia se classificado em quarto do outro grupo, não se acanhou frente às donas da casa e teve uma atuação surpreendente para eliminar a seleção nas quartas de final. Ainda venceu os Países Baixos e a Sérvia para ficar com o ouro olímpico no Rio de Janeiro.
A equipe masculina, diferentemente, fez jus ao favoritismo e se tornou tricampeã olímpica dentro de casa. Mesmo que tenha se classificado em último do grupo, só perdeu um set na fase final (para a Argentina nas quartas) e num jogo pegado contra a Itália, com parciais de 25/22, 28/26 e 26/24, garantiu a quarta medalha de ouro consecutiva para o vôlei brasileiro.
Jogos Olímpicos de Paris 2024
O Brasil chega na França com um total de onze medalhas olímpicas, sendo elas: três de ouro no masculino e duas no feminino, três de prata no masculino e uma no feminino e duas de bronze no feminino. O desempenho recente da equipe masculina não é bom, é o 7º colocado no ranking da FIVB e não vem tendo atuações convincentes. A seleção feminina, por outro lado, se classificou em segundo e tem grandes chances de medalha, podendo até sonhar em trazer o ouro para o Brasil.
Surpresas podem acontecer, é claro, mas a história olímpica da seleção brasileira de voleibol é muito rica, cheia de momentos de derrotas e também de superação e conquistas. Uma coisa que não se pode negar é que os atletas brasileiros sempre deixam tudo de si em quadra e que, sem dúvida, as futuras edições dos Jogos Olímpicos guardam coisas muito boas para o vôlei do Brasil.
REFERÊNCIAS
História do Voleibol. Volleyball Federação Paulista. Disponível em: https://www.fpv.com.br/historia_volleyball.asp. Acesso em: 20 de jul. de 2024.
O Brasil nos Jogos. Rede do Esporte. Disponível em: http://rededoesporte.gov.br/pt-br/megaeventos/olimpiadas/o-brasil-nos-jogos. Acesso em: 22 jul. 2024.
Vôlei: Federação muda contagem de pontos. Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk29109821.htm. Acesso em: 25 jul. 2024.
Todas as medalhas do vôlei brasileiro em Jogos Olímpicos. Olympics. Disponível em: https://olympics.com/pt/noticias/todas-as-medalhas-do-volei-brasileiro-em-jogos-olimpicos. Acesso em: 30 jul. 2024.
JUNIOR, Nelson K. M. História do voleibol no Brasil e o efeito da evolução científica da educação física brasileira nesse esporte. EFDeportes.com. Buenos Aires, n.º 170, jul. de 2012. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd170/historia-do-voleibol-no-brasil.htm. Acesso em: 01 ago. 2024.