A IMAGEM DO CRUZEIRO RESPLANDECE?
Como corrupção, gestão ineficiente e falta de transparência apagaram o brilho de uma das maiores potências do futebol brasileiro.
Por Danilo Resca, Lucas Macedo, Lucas Muniz, Luigi dal Medico, Luiz Schalka, Rudá Emídio e Thiago Abe.
O IMBRÓGLIO ADMINISTRATIVO FINANCEIRO CELESTE: DA LAMA AO CAOS
Para muitos, o maior de Minas. Unanimemente, um gigante do futebol brasileiro e latino-americano. O Cruzeiro Esporte Clube vive atualmente a pior fase de sua história repleta de glórias, como o bicampeonato da Libertadores e o hexa da Copa do Brasil. Não seria fácil de acreditar se dissessem que um clube dessa magnitude, vindo de numerosas conquistas relevantes durante a década de 2010, chegaria ao seu segundo ano na Série B nacional, com esperanças quase nulas de retorno à Elite.
Assim como o colapso de um grande Império e a instalação de um regime ditatorial, a queda de patamar de um clube de futebol é resultado de um longo processo repleto de decisões equivocadas, grandes erros estratégicos, subestimação de adversários e intensos conflitos internos. Se a queda do Império Asteca teve seu ponto de partida na chegada dos Espanhóis e a retomada do poder pelo Talibã no Afeganistão iniciou-se depois da saída das tropas da OTAN, o pontapé inicial da deterioração fiscal e administrativa do Cruzeiro Esporte Clube se potencializou em um dos períodos mais vitoriosos da história, o biênio 2013 e 2014.
Na realidade, esse grave panorama teve início ainda no ano de 2011, quando a diretoria celeste rasgou os princípios básicos de gestão financeira e passou a acumular vultosos déficits anuais. Ainda que tenha ganhado dois Campeonatos Brasileiros, vindo a encantar o país à época, os gastos nesse período foram astronômicos e, devido a negociações feitas sem nenhum tipo de transparência, o capital envolvido na venda dos principais jogadores daquela equipe multicampeã não foi destinado integralmente ao caixa cruzeirense.
Se nos momentos finais da Civilização Asteca, uma crise de comando abateu o império após o Imperador Montezuma II sucumbir diante do conquistador Hernán Cortés, e na deterioração da frágil democracia Afegã, as crises políticas eram constantes (como a que levou Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah a dividirem o poder em 2014), na queda do Cruzeiro à série B do Campeonato Brasileiro (e luta contra o rebaixamento para a série C), um cenário político e administrativo conturbado levou o clube ao pior momento da sua história.
Tal crise política teve início na eleição para a presidência do Palestra Mineiro no ano de 2017. Aliados durante o processo eleitoral, o então presidente Gilvan de Pinho Tavares e seu sucessor Wagner Pires de Sá romperam após o pleito depois da confirmação do cartola Itair Machado - figura que criara uma cisão na diretoria Celeste devido ao seu passado recheado de polêmicas e pendências judiciais. Além da intercorrência criada a partir da eleição presidencial, a troca de comando no conselho deliberativo também contribuiu para o panorama caótico existente no clube. Após a vitória do ex-mandatário da Raposa, José Perrella, para a presidência do Conselho em 2017, a entidade passou por um racha profundo, do qual ainda não se recuperou.
Por fim, a decadência da situação econômica é o principal sinal do enfraquecimento de qualquer instituição. Em relação ao declínio do Império Asteca, a cooptação das tribos sob domínio do Império pelos espanhóis foi fundamental para que os recursos se tornassem escassos. Na derrocada do regime Democrático no Afeganistão, o permanente estado de guerra civil impediu que a economia do país, uma das mais frágeis do mundo, se desenvolvesse e, por conseguinte, emprego e renda chegassem até a população. Quanto à ruína do clube mineiro, os exorbitantes gastos com contratações e renovações de jogadores, que em sua grande maioria não tiveram o rendimento esperado, levaram o clube a uma situação de insolvência. O caso mais emblemático envolveu a contratação do atacante uruguaio Gonzalo Latorre em 2015, jogador que sequer atuou pelo clube celeste e custou 18,5 milhões de reais.
Do mesmo modo, uma horda de jogadores chegaram ao clube por valores exorbitantes, em negociações pouco transparentes. O caso mais recente envolve uma denúncia feita contra o Cruzeiro relativa à contratação de Giorgian De Arrascaeta, uruguaio que chegou ao clube em 2015, vindo do Defensor (URU) e sendo posteriormente vendido ao Flamengo em 2019. Investigam-se possíveis benefícios a dirigentes cruzeirenses à época, nas negociações que envolviam o contrato do meia. São citados nomes influentes, como os de Wagner Pires de Sá e Itair Machado e o empresário André Cury entre os investigados.
Assim, sem recursos em caixa para quitar tais dívidas, a instituição tornou-se inadimplente com clubes e empresários que detinham os direitos econômicos desses jogadores. Sem ter outra alternativa, tais entes recorreram à FIFA para que as pendências financeiras fossem solucionadas. Desse modo, o clube celeste foi obrigado a quitar 40 milhões de reais em débitos desde 2020, e terá que levantar mais recursos para encerrar essas pendências e evitar novas punições, como a perda de 6 pontos na Série B de 2020, que acirrou a disputa da agremiação celeste contra o descenso, desta vez para a Série C do Campeonato Brasileiro.
Nesse sentido, a tragédia recente da equipe celeste, que popularizou o termo “cruzeirar”, usado para se referir a times ameaçados, por fatores financeiros, de quedas vertiginosas como essa, mostra-se indissociável de extensos períodos de irresponsabilidade em sua administração, os quais serão aprofundados nessa produção.
ALTO ENDIVIDAMENTO: INDICADORES E ANÁLISE DO BALANÇO PATRIMONIAL
Primeiramente, a fim de melhor averiguar sobre a crise administrativa e financeira do Cruzeiro, é de suma importância destacar o aumento do endividamento do clube mineiro. Isso pode ser verificado, conforme o gráfico abaixo.
O gráfico 1 demonstra o crescimento significativo do índice de Endividamento Geral do clube (responsável por representar quanto do Ativo total da organização é financiado com capital de terceiros), o qual chega ao expressivo valor de 3,1 no exercício de 2020. Para efeito comparativo de sua complexa situação, o Sport Clube Corinthians Paulista, outro clube que passa por uma grave crise financeira, registrou o valor de 111% para o mesmo período, quase 3 vezes menor que o Cruzeiro. Nesse âmbito, corrobora-se a crescente dependência do clube mineiro em relação ao capital de terceiros.
Ademais, a Análise Horizontal Ano-base dos Passivos (apresentada no gráfico) pode ser utilizada para verificar o crescimento das exigibilidades do Cruzeiro, especialmente a partir do ano de 2019, em que os aumentos notados foram de maior relevância (64% e 94%, respectivamente para 2019 e 2020): ao averiguar o exercício de 2019, comparativamente ao ano anterior, repara-se que o crescimento deve-se a elevação de 113% no valor das obrigações financeiras de curto prazo do clube mineiro (Passivo Circulante). Mais especificamente, suscitada principalmente pelas contas: Obrigações fiscais e sociais parceladas, Contas a Pagar e Obrigações trabalhistas e sociais.
Em relação às Obrigações fiscais e sociais parceladas, a conta registrou um valor de R$ 246.897.000 no período, sendo R$ 171.039.510 proveniente da perda de benefícios dos parcelamentos envolvendo o PROFUT: segundo a nota explicativa das demonstrações financeiras do clube, o não cumprimento das exigências (e subsequente exclusão do clube do programa em 2019) acarretou a transferência obrigações de longo prazo para o curto prazo - além da perda de privilégios, como obtenção de benefícios fiscais (reduzindo multas, juros e encargos legais dos débitos tributários) e alongamento dos prazos para pagamento da dívida final em 240 meses.
Além disso, acerca de Contas a Pagar, o aumento de 53% (R$ 51.093.000) em relação ao exercício anterior é consequência das maiores aquisições de direitos econômicos e federativos (bem como intermediações e direitos de imagem), sendo que foram despendidos R$ 121.925.000 na compra de atletas somente nesse período (com destaque para contratação de Rodriguinho, no valor de US$ 7 milhões - equivalente a aproximadamente R$ 26,3 milhões no período).
Outrossim, diretamente relacionados aos grandes valores investidos na contratação de jogadores estão os altos salários e direitos trabalhistas pagos a esses atletas. Isso é observado em Obrigações trabalhistas e sociais, com o total de R$ 81.763.000 em 2019. Tal valor registrado representa um dos grandes problemas do clube mineiro, o qual manteve altos dispêndios nesse quesito - além de tê-los aumentado com o passar dos anos (em 2018, por exemplo, foram R$ 71.472.000). Nesse sentido, observava-se uma disparidade do Cruzeiro em relação aos seus rivais brasileiros, tendo em vista que, mesmo com alto endividamento, possuía a 2º maior folha salarial do futebol brasileiro em 2019 (R$ 14 milhões de reais, de acordo com o publicado pelo blog de PVC na Uol).
Por sua vez, no ano de 2020, o clube foi beneficiado pelo mecanismo de transação tributária (instituída pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020, por meio da Lei 13.988), que permitiu que o mesmo fizesse um acordo com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional para renegociar dívidas fiscais com descontos e novos prazos - reparado nas demonstrações financeiras, com R$ 297.409.000 a menos contabilizados no Passivo Circulante desse exercício, sendo R$ 207.528.000 provenientes de Obrigações fiscais e sociais parceladas (comparativamente a 2018).
Entrementes, a situação financeira do clube se manteve extremamente complicada, visto que essas obrigações fiscais continuaram no prazo de pagamento de mais de um ano, em conjunto com crescimentos das contas Obrigações trabalhistas e sociais, Empréstimos e Financiamentos e Provisões para Contingências. Por conseguinte, a explicação para o endividamento alto do período (3,1 no indicador de Endividamento Geral) deve-se especialmente ao aumento das exigibilidades de longo prazo do Cruzeiro, conforme gráfico abaixo.
Um primeiro ponto a se destacar é Provisão para Contingências: composto pelas prováveis perdas judiciais do clube envolvendo ações cíveis, trabalhistas e fiscais, o saldo atingiu o montante de R$ 158.221.000 no período (aumento de 246% em relação à 2019). Isso se deve, principalmente, ao rebaixamento do clube mineiro para a Série B do Campeonato Brasileiro em 2019. Consequentemente, houve diversas rescisões durante a temporada de 2020, ocasionadas pelos desligamentos de atletas com altos salários.
Além disso, ressalta-se Empréstimos e financiamentos, 3º conta de maior relevância na composição das obrigações de liquidação em mais de um ano e que demonstrou um expressivo crescimento em relação aos exercícios anteriores (49% e 149% em relação aos anos de 2019 e 2018, respectivamente), corroborando a necessidade, cada vez maior, do capital de credores para financiar suas obrigações financeiras e atividades. Tal ponto será melhor desenvolvido na análise do Fluxo de Caixa das atividades de financiamento.
Ademais, focalizam-se novamente Obrigações trabalhistas e sociais, com o valor de R$ 72.690.000 (2020) complementando o explicitado anteriormente: os altos dispêndios com salários e direitos trabalhistas. Além disso, levando em consideração os valores dessa conta nos Passivos Circulante e não Circulante (R$ 163.515.000 no total - 98 % maior que o período anterior), nota-se que a parte referente a salários e ordenados aumentou em relação ao ano de 2019 (52%) - o que se mostra totalmente contra intuitivo, visto que, com a queda do clube à Série B, seria esperado um corte de gastos envolvendo a folha salarial / obrigações trabalhistas.
Entretanto, é crucial destacar que, diferentemente dos anos anteriores, os altos valores contabilizados no período de 2020 para as obrigações de curto e longo prazo dessa conta são, tal como Provisão para Contingências, impactados por rescisões contratuais parceladas /acordos (R$ 71.715.000 - crescimento de 226% em relação ao exercício de 2019). Nesse sentido, compreende-se que o rebaixamento do clube teve papel fulcral no aumento dos Passivos - especialmente devido às ações trabalhistas e judiciais.
Por fim, é importante também analisar os Ativos do clube e como eles foram impactados durante esse recorte temporal (2016–2020), com intuito de interpretar a capacidade do clube mineiro em honrar seus compromissos financeiros e, subsequentemente, melhor compreender sua complexa situação de endividamento.
O gráfico acima nos permite observar a perda da capacidade de liquidez do clube celeste, haja vista que, em conjunto com o aumento das obrigações financeiras, houve reduções nos valores dos Ativos de curto e longo prazo, especialmente no intervalo entre 2018 e 2020. A explicação acerca dos decréscimos (como R$ 21.328.000 a menos registrado em 2020, comparativamente ao ano anterior - demonstrado no gráfico pela porcentagem de - 32%) poderá ser melhor compreendida por meio da análise das receitas da DRE do Cruzeiro.
DRE - CUSTOS ELEVADOS E BRUSCA QUEDA DE ARRECADAMENTO:
Ao analisar o gráfico 5, podemos notar que houve uma queda na Receita Operacional líquida a partir de 2018, e também uma elevação nos Custos das Atividades e Despesas Operacionais em 2019. Esta, que se manteve alta em 2020, apesar da queda do time à Série B do Campeonato Brasileiro - o que deveria, em teoria, diminuir bastante os custos.
Os custos e despesas se mantiveram altos em 2020 como resultado do alto índice de Gastos com Pessoal, que estão relacionados diretamente com as Obrigações Trabalhistas e Sociais, compostas por pagamentos de salários e Direitos Trabalhistas e Sociais dos Jogadores, que se mantiveram altos em 2020.
Em contraste aos altos dispêndios dos períodos analisados, o arrecadamento sofreu acentuada queda, a qual pode ser entendida pela redução dos valores de seus principais componentes no recorte temporal em análise, conforme o gráfico abaixo.
Primeiramente, percebe-se uma queda nos números de bilheteria, suscitada pelas restrições sociais implementadas ainda no primeiro semestre de 2020 a fim de impedir o avanço do contágio do Coronavírus - como consequência, o clube jogou boa parte dos jogos da temporada sem a presença de público. Além disso, os números apresentados de Publicidade e Transmissões despencaram, resultado sobretudo do rebaixamento do time para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Outrossim, podemos destacar a conta Direitos Econômicos que, apesar de seu elevado aumento em 2019 (devido, principalmente, à venda de Giorgian De Arrascaeta para o Flamengo), sofreu uma grande queda em 2020, alcançando um nível menor que o de dois anos anteriores. Parte dessa perda se deu pela desvalorização de atletas, mas, sobretudo, pela desvinculação de muitos jogadores da equipe titular celeste com a queda à Série B (como já abordado no tópico anterior). Isso impediu que o Cruzeiro pudesse ter um elevado arrecadamento no período de 2020 para pagar suas obrigações financeiras e se estruturar adequadamente à disputa da segunda divisão do Campeonato Brasileiro (com reflexos esportivos claros disso, o não acesso para disputar a Série A em 2021).
O gráfico indica também que as receitas de Patrocínios e Royalties e de Sócio Torcedor não sofreram muitas mudanças de 2018 a 2020.
DFC - AREIA MOVEDIÇA E COMO AS DÍVIDAS FORMARAM UMA “BOLA DE NEVE” NO CLUBE CELESTE
Como apresentado anteriormente, as receitas caem e as obrigações financeiras se elevam (consequentemente os custos e despesas também). Com isso, os resultados esportivos tornam-se cada vez mais negativos e parece que não há saída imediata para o clube que não seja uma reformulação completa.
Como podemos observar pelo gráfico acima, o clube registrou déficit nos últimos 5 anos, uma demonstração clara de que suas contas não vão bem - tendo como pico um resultado de menos R$394.101.000, marcas da queda do clube para a série B do campeonato Brasileiro.
Ademais, hoje o clube é incapaz de cumprir com todas as suas obrigações principais (como a própria equipe de futebol), com suas dívidas crescendo continuamente, tal como demonstrado no tópico da análise do endividamento. Dessa forma, para diminuir os prejuízos, o Cruzeiro postergou seus Passivos de curto e longo prazos por dois motivos: não impactar ainda mais o resultado do exercício e/ou porque não possui recursos disponíveis para quitar a quantia. Todavia, ao postergar o valor, é natural que parcelamentos ocorram, com juros incidentes sobre o valor devido. Nesse âmbito, impactam-se ainda mais as pendências do clube - a “Raposa” acumulou R$ 144.442.000 em postergação de Passivos durante esse recorte temporal em análise.
Para efeito de análise, usaremos os dois últimos anos (2019 , 2020), em que a equipe foi rebaixada e jogou a série B, não conquistando o acesso. Nesse intervalo, o Cruzeiro postergou quase 130 Milhões de reais em Passivos, 90% dos Passivos postergados dos últimos 5 anos. Esses, que foram suscitados pela constante manutenção de elevadas obrigações financeiras (retratada no tópico “Análise - Indicadores de Endividamento e Balanço Patrimonial”), aliada a brusca queda de arrecadamento (em função tanto do rebaixamento do clube quanto dos impactos financeiros acarretados pela pandemia da COVID-19 - explicitada no tópico “ Análise - Demonstração do Resultado do Exercício”), sendo um claro retrato da dura realidade vivida pelo clube mineiro.
Ademais, outro ponto essencial da DFC para entender a situação financeira da equipe mineira é o fluxo de caixa das atividades de financiamento: a relação entre a tomada e o pagamento de empréstimos do clube.
Ao averiguar seu fluxo de financiamento, nota-se que o Cruzeiro constantemente tomou mais empréstimos do que pagou durante o recorte temporal em análise (com exceção de 2017), devido ao alto número de obrigações financeiras. Dessa forma, a situação demonstra-se negativa: com a constante necessidade de tomada de empréstimos para quitar suas exigibilidades (percebida no gráfico - especialmente a partir de 2018), o clube perdeu poder de negociação de empréstimos com seus credores. Consequentemente, pode ter aceitado altos juros incidentes nos valores de financiamento negociados (o que é capaz, no longo prazo, de acarretar um efeito “bola de neve”, com valores a serem pagos em empréstimos cada vez maiores).
GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL
O Grau de Alavancagem Operacional (GAO) é calculado pela variação do lucro operacional dividido pelas vendas e tem por intuito sistematizar operações financeiras realizadas pela empresa, ou organizações sem fins lucrativos, para aumentar a arrecadação.
A operação ser benéfica ou não depende da realidade da entidade, sua necessidade e o modo como vai ser feita. Uma alavancagem mal realizada pode trazer problemas financeiros gigantescos para o clube, pois irá aumentar o endividamento e não trará o resultado esperado, ou seja, o aumento de receitas.
Analisando o caso do Cruzeiro, os gráficos acabam por distorcer um pouco os números reais. Apesar da alavancagem do clube ter resultados positivos, os números mostram uma perpetuação e aumento da dívida.
Em 2018, o clube teve um prejuízo Operacional de R$ 73.819.000 e uma receita com a venda de atletas de R$ 45.994.000. Já em 2019, o prejuízo aumentou para R$ 268.121.000, mas com um aumento da receita para R$108.199.000. Logo, com o GAO de 195%, pode-se dizer que a Alavancagem não teve o resultado esperado. Apesar do aumento das receitas, o prejuízo, que já era negativo, acabou por quadruplicar, aproximadamente.
Já no ano de 2020, a situação financeira agravou. O prejuízo do clube foi ainda maior (R$ 317.580.000) devido às questões do rebaixamento do clube e das restrições sociais geradas pela COVID-19, as quais impactaram veementemente as finanças do clube celeste (como já destacado nos tópicos anteriores). Ademais, as receitas das vendas caíram para apenas R$23.453.000, ou seja, uma variação de -78% em relação ao ano anterior. Com esse resultado, o GAO de 2020 do Cruzeiro acabou ficando negativo, em -24%. Isso demonstra o desastre da situação financeira do clube mineiro.
Assim, conclui-se que o Cruzeiro acabou por piorar as finanças ao não realizar corretamente a alavancagem financeira. O aumento da receita foi acompanhado por um grande aumento das despesas e custos operacionais, além do baixo valor recebido por cotas de televisão (por causa da série B e das questões pandêmicas) e inúmeros processos na justiça, como já analisado.
EM SUMA…
Pode-se concluir que ainda não se sabe de fato a profundidade do abismo no qual o Cruzeiro Esporte Clube se pôs, tendo em vista as recorrentes notícias que trazem cada vez mais embasamento a uma produção como esta - vide os inúmeros escândalos relativos ao clube durante o período analisado.
Sabe-se, no entanto, que o modus operandi que guiou a equipe celeste no decorrer da última década, marcado por falta de transparência na gestão e gastos demasiadamente irresponsáveis, foi o principal motivo para a crise que aparenta não ter fim ao torcedor.
No momento em que este texto é redigido, houve um comentário feito pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, o qual praticamente descarta as possibilidades de retorno à primeira divisão do futebol brasileiro. Tal declaração escancara à torcida de que há uma crise de grande duração. Logo, o caminho para a reestruturação, e o subsequente despertar do pesadelo, encontra-se no longo prazo.
FONTES:
Imbróglio envolvendo a contratação de Arrascaeta
Luxemburgo joga a toalha e vê Cruzeiro sem chances de subir
Cruzeiro acerta detalhes por Rodriguinho, e meia é aguardado no início da semana em BH
Cruzeiro foi rebaixado com folha de pagamento mais cara do que Flamengo
Demonstrações financeiras - Cruzeiro
Da administração ao campo: o conjunto de problemas que levou o Cruzeiro à Série B do Brasileiro
Capelo diz que Cruzeiro praticou crime financeiro e pede prisão de cartolas
Afeganistão: a história de um país em ponto estratégico apelidado de ‘cemitério de impérios’
Problemas de gestão e queda tornam ano o pior da história do Cruzeiro.