SANTOS: ENTRE O PÓDIO E O VEXAME
Uma análise administrativa/financeira do clube paulista.
Por João Mesquita, Luan Freitas, Lucas Muniz e Rudá Emídio.
SANTOS: ENTRE O PÓDIO E O VEXAME
Pense em um torcedor fanático do Santos que despertou recentemente de um coma que o afligiu durante um ano. Agora suponha que ele recebesse somente a informação de que o seu “time do coração” foi finalista de uma competição e, logo em seguida, eliminado na primeira fase de outra. Nesse cenário, a suposição geral seria o torcedor inferir que o clube foi finalista do Campeonato Paulista e eliminado da Copa Libertadores. Entrementes, seria inimaginável que o santista, não ciente da grande irregularidade do time dentro e fora dos gramados, acertasse o que aconteceu de fato: em um curto espaço de tempo, o “Alvinegro Praiano” foi de uma disputa acirradíssima na final da Libertadores (perdendo somente nos acréscimos) para uma luta contra o rebaixamento no Campeonato Estadual. Consequentemente, repara-se que o Santos vive uma realidade dicotômica, alternando entre o pódio e o vexame.
Essa realidade é intimamente relacionada ao péssimo contexto financeiro e administrativo do clube atualmente, marcado por investimentos errôneos, imbróglios judiciais e alto endividamento. Todos esses fatores suscitam essa instabilidade do desempenho do mesmo. Ao mesmo tempo, essa realidade se opõe a sua história vencedora e formadora de grandes craques do passado (Pelé, o “Rei” do futebol) e do presente (Neymar, Rodrygo, entre outros). Nesse sentido, torna-se importante destacar e averiguar sobre ambos os aspectos de natureza financeira e histórica a fim de entender melhor sobre o panorama geral do clube paulista.
ÍNDICE DE ENDIVIDAMENTO GERAL E BALANÇO PATRIMONIAL
O gráfico acima foi produzido com intuito de comparar o grau de endividamento geral para os dois clubes paulistas, ambos em delicadas situações financeiras. Esse índice é de suma importância, pois demonstra quanto do ativo total da organização é financiado com capital de terceiros. Com base nos dados, infere-se que o Corinthians possui um melhor desempenho nesse quesito ao comparar com o alvinegro praiano.
Mesmo com uma situação financeiro-administrativa possivelmente mais complicada (mais fatores envolvidos, como o imbróglio envolvendo a dívida do estádio - para mais informações, a FEA SPORT BUSINESS já produziu um case sobre o Corinthians), a explicação para o alvinegro da capital paulista apresentar melhor desempenho nesse índice do que o Santos é a menor disparidade entre a totalidade dos ativos e passivos nos balanços patrimoniais das equipes. Destaque para o ano de 2020, em que ambos apresentaram crescimento nos índices, mas em diferentes proporções (time do “Parque São Jorge” com 11% e o “Time da Vila Belmiro” com 27%, ambos em comparação ao ano anterior). Isso suscitou a diferença tornar-se gritante, com os índices do Santos alcançando valores quase 3 vezes maiores do que as do seu rival. Cabe ressaltar que a elevação do índice para o Santos deriva não só da diminuição de 5% da totalidade de seus ativos, mas também do crescimento de 20% de seus passivos, ambos em relação ao ano de 2019 (efeitos da pandemia do COVID-19).
A grande inferência a ser tirada dessa disparidade entre ativos e passivos do Santos é a questão da dependência financeira de capital de terceiros, principalmente ao levar em consideração que as exigibilidades de curto prazo do clube são maiores que as de longo prazo (em 2020, respectivamente, R$ 340.999.000 e R$ 305.217.000). Uma prova cabal para isso pode ser vista em Contas a Pagar, exigível de maior valor na composição dos passivos de prazo de até 1 ano de pagamento, conforme o gráfico abaixo.
A partir do gráfico, nota-se que, à exceção de 2018, todos os outros anos deste recorte temporal tiveram Contas a Pagar (referente, principalmente, a gastos em contratações de atletas - como a de Christian Cueva, um dos maiores valores contabilizados - será melhor abordado no tópico “Investimentos errados em jogadores”) , integrante das exigibilidades de curto prazo, com valores superiores ao Ativo Circulante do clube. Ou seja, a totalidade dos ativos de maior liquidez (transformados em dinheiro em até 12 meses) é incapaz de arcar com somente uma das contas que integram o Passivo Circulante.
Consequentemente, dentro das Demonstrações de Fluxo de Caixa, no Fluxo das Atividades Operacionais, nota-se a evidente postergação do pagamento de diversos passivos para os exercícios posteriores. Destaque para o ano de 2020, em que o clube, devido ao grande impacto financeiro gerado pela pandemia do COVID-19, postergou o pagamento de R$ 103.449.000 (R$ 67.476.000 provenientes de Contas a Receber) para futuros exercícios. No entanto, ressalta-se que esse processo exige a negociação entre ambas as partes para a realização dos parcelamentos das exigibilidades, sendo que a situação financeira instável aliada intimamente a essa dependência de capital de terceiros podem dificultar o clube a pleitear na realização de melhores negócios, acabando, provavelmente, por acatar o proposto pelas outras partes envolvidas.
Nesse sentido, os desdobramentos dessa dependência podem ser as dificuldades enfrentadas com os credores, por meio de imposições nas negociações dos parcelamentos, acarretando menores prazos para pagamento e maiores taxas de juros. Assim, agregando essa questão com outros fatores (como a questão da arrecadação do clube - será explicitado no tópico “Análise da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)”), a consequência é a maior instabilidade financeira e a possibilidade de maiores dificuldades de solvência do Santos - já visualizada a certo tempo, mas potencializada pelos efeitos negativos advindos da pandemia do COVID-19.
Assim, torna-se relevante averiguar com um melhor detalhamento a capacidade de solvência do clube, a qual far-se-á por meio dos indicadores de liquidez.
ÍNDICES DE LIQUIDEZ E TERMÔMETRO DE KANITZ
Os índices de Liquidez são um importante indicativo da saúde financeira de um clube: eles medem o grau de solvência, ou seja, a capacidade das equipes de quitar suas dívidas.
Os índices de Liquidez Corrente e Seca medem a capacidade do clube em honrar seus compromissos financeiros de curto prazo. Por sua vez, a Liquidez Geral é aplicável para mostrar a saúde financeira de longo prazo do mesmo.
É possível notar que todos apresentam valores alarmantemente baixos (sendo que valores abaixo de 1 já são considerados baixos e os apresentados para o clube são menores que 0,5), indicando que o clube possui dificuldades financeiras. A razão por trás disso é o aumento no nível do Endividamento Geral do Santos, previamente mencionado. Este, que resulta da progressiva diminuição dos Ativos e crescimento dos Passivos e, consequentemente, impacta diretamente no grau de solvência de curto e longo prazo.
Em outras palavras, o Santos contraiu muitas dívidas nos últimos anos pela diminuição dos bens e direitos que podem ser convertidos em valores monetários (ativo), e aumento dos gastos e despesas (passivo). O aumento do nível dos dispêndios (e da dívida como um todo), acompanhado pela diminuição dos meios de recebimento, suscitou o “Alvinegro Praiano” apresentar dificuldades em honrar seus compromissos financeiros com terceiros.
A Liquidez seca, assim como os outros dois índices, é pequena e ainda diminui ao longo dos últimos anos. Este índice de Liquidez mede o grau de solvência do Ativo Circulante no curto prazo, mesmo que nada no estoque seja vendido. O fato de a Liquidez Seca ter um valor similar à Liquidez Corrente indica que a capacidade que o Santos possui no curto prazo de honrar suas dívidas não depende da venda de seu estoque.
Ressalta-se ainda que o departamento financeiro santista deverá, de forma urgente, encontrar alternativas de reduzir os gastos do clube ao mesmo tempo que aumente o faturamento, objetivando estancar as dívidas do clube.
Ademais, o baixo grau de solvência do Santos pode ser demonstrado também por meio do Termômetro de Kanitz. Fruto da tese de livre docência de Stephen Kanitz, esse é um instrumento utilizado para prever a possibilidade de falência de uma empresa no curto prazo. Embora o método tenha sido originalmente criado para analisar empresas, os resultados obtidos através dele são muito eficientes e podem ser usados para analisar associações civis, como é o caso de um clube de futebol.
O Termômetro de Kanitz é dividido em três áreas como mostrado abaixo. O Santos se encontra na área de penumbra (-0,43). Isso significa que o Alvinegro não corre um risco sério de falência no curto prazo, mas se não tratar os problemas de solvência, poderá apresentar esse risco futuramente.
ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (DRE)
O gráfico do Resultado líquido do Exercício demonstra que dois dos 4 anos do recorte temporal em análise apresentaram déficits. Ademais, o gráfico de Receitas Operacionais apresenta, em conjunto com um aumento progressivo dos custos operacionais, explicações para os resultados negativos dos anos de 2018 e 2020, ambos com suas especificidades.
Primeiramente, em relação ao ano de 2018, reparou-se a grande diminuição por parte das receitas com Repasses de direitos federativos. Ou seja, a questão da venda de atletas (principalmente das categorias de base do clube) - algo já intrínseco ao Santos, visto as vendas de estrelas como Neymar, Robinho, Rodrygo, dentre várias outras - ratifica sua relevância como um dos mais importantes componentes das receitas operacionais a partir da análise desse ano. Ainda mais ao levar em consideração o fato da sede e estádio do clube não estarem localizados na capital paulista, o que o leva a não possuir o mesmo potencial de arrecadação em direitos de transmissão e bilheteria tal qual seus rivais paulistas (novamente remetendo-se ao Corinthians, que somente com essas duas contas arrecadou R$258.329.000, equivalente a R$ 127.848.000 a mais do que o Santos).
Por sua vez, o ano de 2020 necessita de um diagnóstico diferente, visto as diversas consequências administrativo-financeiras provocadas pela pandemia do COVID-19, já retratadas em parte na análise do balanço patrimonial, mas que ficaram mais visíveis neste diagnóstico da Demonstração do Resultado do Exercício, conforme o gráfico abaixo.
Notou-se que o clube passou por uma drástica redução das Receitas Operacionais (R$ 160.027.000) em relação ao ano anterior. Isso se deve a diminuição de várias contas, dando destaque para Repasses de direitos federativos: apesar de contabilizar o segundo maior valor nos últimos 4 anos, sua redução de 61% na análise horizontal - comparando com o ano de 2019 - pode ser justificada pelos impactos econômicos das paralisações dos campeonatos devido ao COVID-19 . Com isso, percebeu-se que os clubes passaram a realizar menos contratações.
Inclusive essa questão é corroborada pelo fato de que, mesmo chegando na final da Libertadores e possuindo jogadores valorizados por essa campanha, o clube arrecadou R$ 131.969.000 a menos em relação ao ano anterior (em que contabilizou R$ 172.480.000 somente com a venda dos direitos econômicos de Rodrygo para o Real Madrid).
Ademais, como esperado do atual contexto pandêmico, notou-se a redução das receitas com transmissões televisivas, justamente por fatores como as paralisações das competições. Ressalta-se ainda o aumento de 14% (análise horizontal) nos Custos Operacionais do time, os quais se devem, principalmente, ao aumento vertiginoso de 488% (analise horizontal) referente à conta Despesas com negociações de atletas: dispêndios associados a atestados liberatórios de atletas - nesse sentido, intimamente relacionados a atual crise do Santos, a qual acarreta o interesse de seus atletas de se desvincularem do time (exemplos são Everson e Eduardo Sasha, os quais moveram, inclusive, ações judiciais contra o clube).
GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL
O último tópico referente à análise financeira desse case é o cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (“GAO”). Esse indicador é usado para medir a variação no lucro operacional em razão das variações nas receitas obtidas com venda, nesse caso a transferência de jogadores. Caso um clube não fature muito com a venda e empréstimo de seus atletas, mas deseje que o lucro operacional continue alto, ele pode realizar uma manobra de alavancagem, tomando empréstimos para impulsionar as receitas.
No curto prazo, tal estratégia pode ser benéfica, mas se não for minuciosamente conduzida pelo departamento financeiro, no longo prazo, o clube corre o risco de contrair uma dívida consideravelmente grande.
O “GAO” do “Peixe” para os anos de 2020, 2019 e 2018, foi razoavelmente baixo, principalmente quando comparado a outros rivais do Campeonato Brasileiro Série A . Isso significa que o crescimento do lucro operacional, nos anos previamente citados, está fortemente relacionado ao aumento das receitas com transferências de atletas. Diferentemente de outros clubes brasileiros, o lucro operacional do Santos vem aumentando em função das receitas geradas com vendas e empréstimos de jogadores para outros clubes, e não por conta de manobras de alavancagem operacional - como fez o Atlético Mineiro por exemplo.
O principal destaque das vendas do Santos nos últimos anos foi a do atleta Rodrygo Goes para o Real Madri por 45 milhões de euros.
INVESTIMENTOS ERRADOS EM JOGADORES
Como demonstrado na análise financeira, o clube é marcado por uma ineficiente gestão tanto no âmbito financeiro quanto no administrativo. Assim, priorizam-se assuntos de menor importância, enquanto os principais são mantidos em segundo plano. Um exemplo dessa política, o qual ratifica essa afirmação, é a saída de Yuri Alberto para o Sport Club Internacional.
Revelado nas categorias de base pelo Santos, Yuri demonstrava ser uma das novas promessas do futebol brasileiro. O surgimento de interesse de diversos clubes pelo jogador fez com que ele assinasse um pré-contrato com o Internacional, mas com uma cláusula definindo que o jogador priorizaria o Santos, desde que o time cobrisse qualquer proposta ofertada por concorrentes. Ao ter conhecimento dos valores oferecidos pelo Internacional, o ex-presidente santista, José Carlos Peres, acabou desistindo de negociar com o jogador, devido ao grande endividamento do clube. Como resultado, o Internacional contratou o jogador, não tendo de pagar nenhum valor referente à transferência, deixando Cuca (técnico do time à época) e membros da torcida revoltados com a administração do clube.
Além de sua má gestão financeira e administrativa, o clube acumula diversos exemplos de contratações que decepcionaram sua torcida. Dessa forma, apesar da alta expectativa envolvida no processo de contratação dos atletas, eles apresentaram poucos resultados no time alvinegro, sendo atribuído a eles parte da responsabilidade pela situação atual do clube.
Um primeiro exemplo de jogador que não atendeu às expectativas é Bryan Ruiz. Considerado um dos responsáveis pela classificação da seleção da Costa Rica às oitavas de final da Copa de 2014 (mesmo estando no “grupo da morte”, com Inglaterra, Uruguai e Itália), Bryan assinou um contrato de dois anos e meio com o Santos, após não ter renovado com o Sporting Clube de Portugal. Contudo, seu rendimento no time se mostrou totalmente diferente do observado em 2014.
Durante o período entre julho de 2018 e julho de 2020, o jogador participou de somente 13 partidas oficiais com a camisa do Santos, com um pífio desempenho (nenhum gol e apenas duas assistências) ao levar em consideração a grife que o jogador possuía ao chegar ao clube, com altos gastos envolvidos. Ademais, corroborando esses altos dispêndios relacionados ao jogador está o fato de que, segundo uma pesquisa realizada pelo site GloboEsporte.com, o custo do atleta aos cofres dos Santos se aproxima de R$ 400 mil por partida disputada.
Somado ao baixo desempenho, Bryan também é mal visto pela torcida por ter acionado o clube na justiça. Em julho de 2020, ele rescindiu seu contrato, alegando o atraso no pagamento de salários, FGTS e direitos de imagem. A ação perdurou até maio deste ano, quando a justiça ordenou que o Santos pagasse R$ 6 milhões ao jogador, como forma de indenização. Apesar da decisão, o clube ainda pode recorrer.
Um segundo exemplo de atleta que desapontou os torcedores é Christian Cueva. Destaque no elenco do São Paulo, no qual se consolidou líder em assistências, Cueva foi contratado pelo Santos em fevereiro de 2019, vindo do time russo Krasnodar.
O contrato previa que o jogador permaneceria o primeiro ano no regime de empréstimo, para depois formalizar a contratação definitiva. Em troca, o time alvinegro desembolsaria um montante de US$ 7 milhões. No entanto, alegando atraso nos pagamentos (somado ao fato de não ter assinado um contrato definitivo), o jogador assinou com o time mexicano Pachuca, sem a autorização do Santos. Em resposta, o clube paulista entrou com uma ação contra o time mexicano na Fifa, usando a justificativa de abandono de trabalho. Consequentemente, foi definido em dezembro de 2020, mas ainda cabendo recurso, que tanto o jogador quanto o time mexicano deverão pagar, desconsiderando os juros, um valor total de pouco mais de R$ 37,5 milhões ao Santos. Este, por outro lado, deverá quitar seus atrasos em relação aos salários do jogador e às parcelas devidas ao Krasnodar.
Um terceiro nome, ocupando a sexta posição no ranking de contratações mais caras da história do futebol brasileiro, é Leandro Damião. Vindo de uma boa campanha no Sport Club Internacional, o clube gaúcho exigiu o pagamento no valor de R$ 41,6 milhões pela transferência do jogador. Por não ter dinheiro suficiente à época, o Santos entrou em acordo com o fundo de investimentos Doyen, o qual concordou em realizar o empréstimo do valor com algumas exigências.
A partir de 2014, aproximadamente um ano depois da contratação, a situação se agravou quando Damião promoveu uma ação contra o clube, alegando atraso no pagamento de salários (realidade também vivenciada por outros jogadores do elenco). Após o desfecho da disputa, com a sentença de uma indenização de R$ 4,5 milhões a ser paga pelo clube ao jogador, a situação tornou-se ainda mais crítica: percebendo que o time dos “Meninos da Vila” não quitaria suas dívidas, o fundo Doyen processou o Santos, exigindo uma indenização de R$ 74 milhões. O novo processo se encerrou com o clube paulista concordando em pagar R$ 88 milhões ao fundo, valor que englobava tanto a transferência de Damião quanto as dívidas existentes em contratações de outros atletas.
Outra contratação do Santos, responsável por gerar grande polêmica à época, foi a do jogador Robinho em outubro de 2020: aproximadamente três anos antes, o jogador havia sido condenado pelo Sistema de Justiça Italiano em uma investigação sobre um caso de estupro ocorrido em 2013 contra uma mulher albanesa. Nesse contexto, a condenação do jogador em segunda instância pela justiça italiana, em dezembro de 2020, revoltou não só os torcedores do clube, mas toda a comunidade de futebol, de forma geral. Dessa forma, diante da pressão pública, e de ameaças de quebra de contrato por parte de patrocinadores, o Santos rescindiu o contrato com o jogador em fevereiro deste ano (para mais informações, a Sport Business já publicou um texto sobre o assunto).
HISTÓRIA E CATEGORIAS DE BASE:
Diferentemente do atual quadro administrativo e financeiro lastimável do clube, remetendo-se a questão histórica, o Santos possui muito a contar, visto que é um dos clubes mais vitoriosos da história do futebol brasileiro.
Proveniente de uma cidade de porte de médio do litoral paulista, o clube é o segundo time com mais títulos do Campeonato Brasileiro e, junto com o Grêmio e São Paulo, o time brasileiro que mais conquistou a Copa Libertadores. Além disso, também conquistou dois mundiais interclubes, uma Recopa Sul-Americana e uma Copa do Brasil.
Na verdade, o passado de glórias do Santos se confunde com o passado de glórias da própria Seleção Brasileira, um vez que a era mais vitoriosa da Seleção Brasileira, o interstício entre os anos de 1958 a 1970 (período no qual o Brasil conquistou três das suas cinco conquistas), coincide com a era mais vitoriosa do Santos. Essa semelhança não é mera coincidência, pois à época ambos, o Santos e a Seleção “Canarinho”, eram movidos pelo futebol de Pelé, incontestavelmente o maior jogador de todos os tempos.
Todavia, apesar de ter sido indiscutivelmente a maior revelação da história Santista, o “Rei do Futebol” é apenas um dentre os inúmeros craques formados na Vila Belmiro. Entre os “Meninos da Vila” estão craques do passado (Como Pelé, Coutinho e Pepe) e do presente, como Neymar, Rodrygo e Gabriel Barbosa. Essa é a materialização de um profícuo trabalho de base calcado em quatro pilares: Ciência, Estrutura, Planejamento e Oportunidade.
O componente científico é ligado ao estudo fisiológico das promessas. Nesse quesito os fisiologistas do Santos têm uma abordagem heterodoxa: preferem jogadores maturados tardios (que tem idade biológica menor que a idade real), pois segundo eles, esse biótipo tem mais tempo para adquirir informações e formar uma aprendizagem de longo período.
Quanto a estrutura, além dos alojamentos na Vila Belmiro, os garotos têm três campos para treinamento e uma academia. Já em relação ao planejamento, há a preparação visando o crescimento profissional dos atletas desde à categoria sub-11, com o foco na formação de jogadores para o profissional em detrimento da conquista de competições de base. Por fim, nenhum desses fatores teria eficácia se os atletas da base Santista não tivessem, desde cedo, inúmeras oportunidades no time principal.
EM SUMA…
A despeito dos investimentos errados e do caos financeiro que atormenta o clube nos últimos anos, é fulcral destacar a resiliência do Santos, característica comum a clubes de enorme tradição, como o “Alvinegro Praiano”.
Na temporada 2020, essa capacidade de contornar situações difíceis foi tamanha que, mesmo em um patamar bem inferior as maiores potências sul-americanas - além de impossibilitado de registrar novos jogadores -, o time da Vila Belmiro conseguiu, com um time muito jovem - recheado de apostas oriundas de clubes de menor expressão e atletas da base -, chegar à final da Libertadores. Essa campanha foi particularmente emblemática pois, a partir do protagonismo de Marinho e Soteldo, o Santos manteve o “DNA” ofensivo, marca registrada do clube desde os tempos áureos de Pelé: o time goleou adversários de peso, como Grêmio e Boca Juniors, nas fases finais da competição.
Portanto, não há como não enxergar um enorme potencial em um clube que consegue produzir tanto com escassez de recursos: olhando especificamente para as categorias de base, principal especialidade do clube, é perceptível que já há uma nova safra de craques, como Kaio Jorge e Marcos Leonardo, pronta para brilhar nos gramados da Vila Belmiro e, posteriormente, gerar bons dividendos para o clube.
No entanto, não se pode depositar toda a responsabilidade em um setor do clube e postergar todo o trabalho necessário para modernizar a instituição, uma vez que o protelamento do trabalho necessário para sanar as contas e fortalecer o panorama administrativo do clube resultará, no melhor dos cenários, na perpetuação da irregularidade observada dentro de campo. Portanto, será imprescindível uma revolução nas áreas administrativa e financeira do clube para que o “Alvinegro Praiano” volte a reinar novamente.
FONTES:
Demonstrações Financeiras - Santos
Ciência, boa estrutura e planejamento: pilares do sucesso da base do Santos
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